sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Brasil surpreende em 2013 com expansão de 2,3%, mas 2014 deve ser mais difícil

Brasil surpreende em 2013 com expansão de 2,3%, mas 2014 deve ser mais difícil

27/02/2014 - 11:33
Reuters
 

Por Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO, 27 Fev (Reuters) - A economia brasileira surpreendeu no final do ano passado ao crescer mais do que o esperado, evitando que o país entrasse em recessão técnica, mas os resultados ainda não são suficientes para uma mudança geral das expectativas de um 2014 mais fraco.
O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,7 por cento no quarto trimestre de 2013 na comparação com os três meses anteriores, com destaque para o setor de serviços e o consumo do governo e das famílias, que apresentaram expansão.
Em relação ao quarto trimestre de 2012, o avanço foi de 1,9 por cento, fechando 2013 com expansão de 2,3 por cento, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira.
Em 2012 a economia havia crescido 1,0 por cento.
A mediana de previsões de analistas consultados pela Reuters apontava para crescimento de 0,3 por cento do PIB sobre o terceiro trimestre de 2013, de 1,6 por cento sobre o quarto trimestre de 2012 e de 2,2 por cento em 2013 como um todo.
O país poderia ter entrado em recessão técnica --quando há retração por dois trimestres seguidos-- no final do ano passado porque no terceiro trimestre de 2013 o PIB havia encolhido 0,5 por cento sobre o período imediatamente anterior. A última vez que o país viveu essa situação foi no final de 2008 e início de 2009, auge da crise financeira internacional.
O resultado do trimestre passado sobre os três meses anteriores veio com a expansão do setor de serviços (0,7 por cento) e do consumo das famílias (0,7 por cento) e do governo (0,8 por cento). A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) --medida de investimentos-- também mostrou resultado positivo, de 0,3 por cento.
Nesta comparação, no entanto, a agropecuária ficou estagnada e a indústria encolheu 0,2 por cento, um sinal de fraqueza que chamou a atenção dos especialistas.
"A queda da indústria deixa evidente que o que está mantendo o país com uma taxa de crescimento apenas moderada são os problemas no campo da oferta e isso deve continuar neste ano", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, que vê expansão de 1,8 por cento do PIB em 2014.
O fim de 2013 havia surpreendido pelos fracos resultados na indústria e no varejo, que também jogaram água fria sobre as expectativas de recuperação em 2014, um ano eleitoral e que pode dificultar ainda mais a vida da presidente Dilma Rousseff, que vai tentar a reeleição.
A confiança do consumidor também iniciou o ano mostrando fraqueza. Em fevereiro, atingiu seu menor nível desde maio de 2009.
"O mercado esperava uma queda no investimento, o que não aconteceu. É possível que o aumento do investimento tenha a ver com maiores estoques. Assim, devemos ter um número mais fraco do PIB no primeiro trimestre", afirmou o economista da gestora de recursos Saga Capital Gustavo Mendonça. "O ano começou com muita incerteza."
ANO FECHADO
Em 2013 como um todo, a FBCF --medida de investimentos-- foi a boa notícia, com crescimento de 6,3 por cento sobre o ano anterior, que passou a ter participação positivo no resultado anual, de 1,3 ponto percentual. Também se destacou o setor agropecuário, com alta de 7 por cento no período, mas que tem um peso menor no PIB do que Indústria e Serviços.
O consumo do governo teve expansão de 1,9 por cento no ano passado, enquanto que o das famílias, de 2,3 por cento. Neste caso, apesar de ter respondido por 1,4 ponto percentual do PIB de 2013, foi o pior resultado desde 2003, influenciado pelos juros mais elevados e pelo câmbio.
Para 2014, os especialistas, segundo última pesquisa Focus do Banco Central, apontam que o PIB deve crescer ainda menos, apenas 1,67 por cento, expectativas que vêm se deteriorando a cada dia. No final do ano passado, elas indicavam crescimento de 2 por cento.
O IBGE informou ainda que as exportações de bens e serviços cresceram 2,5 por cento no ano passado sobre 2012, enquanto as importações de bens e serviços tiveram expansão de 8,4 por cento no período.
(Reportagem adicional de Felipe Pontes, no Rio de Janeiro, Camila Moreira, Bruno Federowski e Asher Levine, em São Paulo)

QUARTA-FEIRA, 26 DE FEVEREIRO DE 2014

Humberto Costa diz que ideias do PSDB levaram o Brasil para o buraco

Publicado em 26/02/2014 às 8:38 por  em Eleições,Notícias
Foto: Pedro França/Agência Senado
Foto: Pedro França/Agência Senado
 
Líder do PT no Senado, o pernambucano Humberto Costa (PT) tomou para si a defesa dos governos de Lula e Dilma das críticas disferidas nessa terça-feira (25) pelo presidenciável mineiro Aécio Neves (PSDB). Na tribuna da Casa, o senador petista afirmou que a oposição não é capaz de realizar as mudanças que o Brasil precisa e atacou o PSDB, afirmando que as ideias da legenda levaram o Brasil para o buraco durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
“Quando vejo as propostas dos tucanos e do seu candidato a presidente da República, vejo tão somente a repetição dos mesmos princípios, das mesmas ideias que levaram o Brasil para o buraco”, afirmou Humberto. No Senado, uma solenidade marcava os 20 anos do Plano Real e exaltava a figura de FHC. Em coro, os tucanos criticaram a condução da economia pelo PT.
“Quem consegue construir a dignidade mínima obviamente cria outras necessidades que precisam ser atendidas, mas nós não vamos atender a essas necessidades com governos que não têm sensibilidade social, com governos que aprofundam desigualdades, com governos que acham que o papel do Estado é tão somente o de fazer com que as forças do mercado possam reger as leis da nossa economia”, disparou o petista.
Pernambuco
Com o discurso do legado petista em Pernambuco na ponta da língua, Humberto ainda questionou a falta de prioridade dada pelo PSDB ao Estado na época de FHC. ”O que fizeram os governos tucanos para atender e o povo do meu Estado? Não se sabe. Mas os governos Lula e Dilma fizeram Pernambuco crescer. Nós levamos uma refinaria, nós levamos um Polo Petroquímico, nós levamos dois estaleiros, nós levamos a Fiat”, listou.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Azeredo escreve carta de renúncia e cai atirando no Supremo
CORREIO DO BRASIL
 
19/2/2014 12:10
Por Redação - de Belo Horizonte e São Paulo


O senador Azeredo (PSDB-MG) está envolvido no processo do 'mensalão tucano'
O senador Azeredo (PSDB-MG) está envolvido no processo do ‘mensalão tucano’

O deputado federal mineiro Eduardo Azeredo (PSDB), réu no processo do chamado mensalão tucano, renunciou ao mandato nesta quarta-feira. Ele assinou uma carta renúncia, em Belo Horizonte. A carta de renúncia foi levada a Brasília por Renato Penido Azeredo, filho do político tucano, e entregue ao presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Segundo a assessoria de Azeredo, o parlamentar diz na carta de renúncia que não concorda com as acusações do processo de crimes de peculato e lavagem de dinheiro. Para o parlamentar, no Supremo Tribunal Federal (STF) não há julgamento, mas “apenas condenação”. Ex-presidente da República e líder tucano, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não pensa assim.
Embora FHC venha evitando comentar sobre a punição de tucanos com eventual participação no mensalão tucano, ele manteve sua confiança no STF:
– Eu não li o processo, acho que processo vai ser julgado, eu acredito na isenção do STF.
Azeredo é réu no processo por seu suposto envolvimento no esquema de desvio de recursos públicos montado para abastecer sua campanha à reeleição para o governo de Minas Gerais em 1998. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu que o Supremo condene Azeredo a uma pena de 22 anos de prisão e pagamento de multa de R$ 451 mil por participação no esquema.
Questionado se o episódio pode ter algum impacto na campanha do provável candidato Aécio Neves à Presidência, FHC tangenciou.
– Eu não quero saber, eu não vou opinar sobre o que cada um faz. Se o STF achar que tem culpa é que tem culpa – disse.
No último dia 7, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
pediu a condenação de Azeredo por ele ter desviado recursos do Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge), extinto, e das estatais mineira, Copasa e Cemig, para sua campanha à reeleição. Em valores atuais, seriam cerca de R$ 9 milhões.
Aliados do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que é pré-candidato tucano à Presidência da República, faziam pressão nos bastidores para que o caso do mensalão tucano não atrapalhasse a campanha. Azeredo chegou a divulgar que faria um discurso em sua defesa na Câmara, mas alegou “motivos de saúde” e cancelou a intervenção.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Mulheres fazem beijaço na Câmara contra Jair Bolsonaro

Portal Terra
Em meio à negociação para divisão de comissões da Câmara dos Deputados, um grupo de cinco mulheres promoveu um "beijaço" nas dependências da Casa contra a possibilidade de o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) assumir a Comissão dos Direitos Humanos. Na mesma linha dos protestos contra o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), as ativistas levaram cartazes a deputados nos quais pediam "mais amor, menos Bolsonaro".
Bolsonaro, conhecido por suas posições conservadoras, tenta suceder Feliciano na Comissão de Direitos Humanos. O caminho poderá ficar livre para ele caso o PT abra mão da comissão e o PP não garanta a Comissão de Minas e Energia.
"Há sim uma perspectiva que essa comissão seja presidida por Bolsonaro, que na nossa opinião é um inimigo dos direitos humanos", disse Maria das Neves, diretora das jovens feministas da UJS.
Questionado sobre o protesto, Bolsonaro disse que pretende defender o direito das maiorias caso seja eleito à comissão. "Minha proposta é defender o direito das maiorias, e não das minorias. Minorias têm de se calar, se curvar a maioria", disse.
Bolsonaro também defendeu a pena de morte contra a "minoria de marginais que aterroriza a maioria". "Quando se fala em menor vagabundo, como esse que foi preso num poste do Rio de Janeiro, você tem de ter uma política para aprisionar esses caras, buscar a redução da maioridade penal", disse.

Tags: comissão, direitos, Disputa, humanos, presidente

domingo, 2 de fevereiro de 2014

A Secom e o desassossego da mídia

O alarido em colunas e gargantas mensageiras expressa uma expectativa consuetudinária das corporações em relação à pasta.
por: Saul Leblon

Arquivo

O desassossego da emissão conservadora com a saída de Helena Chagas, da Secom, não diz algo apenas sobre a ex-ministra egressa das Organizações Globo, e que por mais de quatro anos esteve à frente do órgão que centraliza a comunicação e o orçamento de publicidade do governo federal.

O alarido em colunas e gargantas adestradas no varejo dos recados patronais expressa, ademais, o entendimento consuetudinário que as grandes corporações  do setor nutrem em relação a essa pasta.

- Se é preciso mexer, que seja para nada mudar, adverte o ectoplasma dos interesses que se avocam a indivisa prerrogativa sobre a opinião pública nacional.

O dispositivo midiático relaciona-se com a  Secom  na mesma chave hierárquica  através da qual o  mercado financeiro busca impor sua soberano ao BC. Equivale ao tratamento dispensado pelos oligopólios regulados às agencias regulatórias, por reles capturadas.

Tudo se passa como se a esfera pública lhes devesse a fidelidade própria de uma extensão dos interesses privados.

Essa é a natureza dos recados disparados ao governo por ocasião da saída de Helena Chagas da Secom.

Equivale aos avisos intimidativos que gangues enviam à chegada de novos moradores no quarteirão.

Justiça seja feita, há coerência com o que se estampa e se emite a título de noticiário.

Importa, assim, discutir o outro lado.

O problema maior é a eficácia  –razoavelmente alta—que esse comportamento tem obtido.

Há quem tema que o sucesso se repita agora, mergulhando-se a mudança na Secom em um formol de busca de indulgência composto de mais do mesmo.

Que um governo progressista, há mais de uma década à frente do Estado, não tenha formado ainda um consenso quanto a necessidade de tornar mais ecumênico o sistema de comunicação do país, configura um mistério que até mesmo os dilatados limites das alas moderadas da esquerda não conseguem mais aceitar.

Muito das hesitações petistas nessa esfera pode ser atribuída à percepção de uma correlação de forças adversa, que impõe a estrita seleção dos confrontos a enfrentar.

A avaliação teria excluído  das prioridades do governo Dilma  o projeto de regulação das comunicações audiovisuais preparado pelo ex-ministro  Franklin Martins.

O texto dorme no berço esplendido da gaveta do ministro Paulo Bernardo, mas embalado por ordens superiores.

Há uma inércia histórica que explica –ou pelo menos explicou até a crise do chamado mensalão—  comportamento dos governos petistas nessa área.

O PT nasceu há 34 anos,  em fevereiro de 1980.

Veio ao mundo com a simpatia abrangente dos jornalistas brasileiros.

As greves históricas dos anos 70 e 80 no ABC paulista magnetizaram as redações e toda uma geração de profissionais formada na resistência à ditadura.

Os levantes metalúrgicos criariam o sujeito histórico do novo período acalentado.

São Bernardo do Campo simbolizava o protagonista e o lugar da mudança.

Era uma pauta de apelo avassalador.

Estabeleceu-se uma camaradagem solidária entre repórteres e os destemidos metalúrgicos de Lula. A intimidade com o baixo clero das redações trouxe apoios, informações e contatos.

Era um tempo em que a luta operária carecia de escala e organização política.

A proximidade com os jornalistas - muitos dos quais renunciariam a cargos e carreiras para se engajar na luta sindical e depois, na do PT - criou também ilusões.

O trânsito fácil com a imprensa sugeria haver espaço a ocupar na grande indústria da notícia. Formou-se um consenso: a margem de manobra existia, bastava habilidade, certa moderação e bons contatos para explorá-la.

Marcaria uma inflexão nesse entendimento a derrota para Collor em 1989.

A Globo editou o debate final da campanha; deu quase dois minutos adicionais ao 'caçador de marajá' no compacto que levou ao ar no Jornal Nacional; estigmatizou as falhas de Lula, selecionando-as em contraponto aos melhores momentos do rival.

O alerta foi claro, mas não construiu uma novo diagnóstico político a ponto de renovar a agenda em relação ao aparato midiático.

Pesaria mais naquele momento a autocrítica das falhas da campanha do que a percepção do novo adversário de peso.

Foi um erro.

Não era qualquer adversário, mas aquele que aos poucos se revelaria com poderes para exacerbar a relação de forças e disposto a fazê-lo  --até o limite da manipulação, se necessário.

A 'união' nacional no impeachment de Collor, ato contínuo à derrota, e a vitória em 2002, num ambiente de hostilidade aberta, mas contrastado pelo racha que a inoperância tucana promoveria no interior do  próprio empresariado, mitigaram o conflito entre as convicções históricas do partido e a postura abertamente anti-petista da mídia.

A liderança de massa de Lula atingiu seu auge então  reverberou no país durante os oito anos em que esteve à frente de um governo exitoso no plano social e econômico.

O prestígio esmagador dentro e fora do país empalideceu o cerco midiático e coagulou o debate sobre o tema da comunicação no interior do partido.
Parecia desnecessário.

Lula falou todos os dias, algumas vezes por dia, durante os 2.920 dias em que exerceu a Presidência da República.

O instinto político comandava a garganta.

A voz rouca abria espaços na opinião pública estabelecendo uma linha direta com o imaginário popular, a contrapelo da má vontade dos veículos de comunicação.

Não eram apenas palavras ocas, como alvejavam os editoriais raivosos. Elas carregavam resultados de políticas bem-sucedidas que entravam na casa dos mais humildes, sentavam-se à mesa, mudavam a rotina do país, redesenhavam as fronteiras da produção e do consumo de massa.

 A mídia era obrigada a repercutir e Lula falava sem trégua.

 Pautava a conversa nacional: era uma estratégia militante de ocupação de um espaço que se tornara esfericamente adverso. Eles chamavam a isso de 'lulo-populismo'.

Paradoxalmente, a exuberância oratória de Lula  –ancorada em êxitos econômicos robustos-- veio revalidar a ingenuidade dos que ainda apostavam na existência de um espaço de tolerância no interior das redações.

Escaparia a esses dirigentes petistas a brutal transformação em marcha no interior da mídia e na própria composição das redações.

Ao longo de duas décadas de polarização política entre a agenda afuniladora do neoliberalismo e as urgências sociais do país, o ambiente jornalístico sofreria uma mudança qualitativa de pauta, estrutura e composição profissional.

A tentativa de impeachment de Lula em 2005, já no ciclo da chamada crise do 'mensalão' - que culminaria em novembro de 2012 com o linchamento e a condenação à  prisão justamente de lideranças históricas e pragmáticas  do partido--  sacudiu a inércia petista com força, pela primeira vez.

O espaço de tolerância acalentado ainda por emissários autonomeados, que traziam recados dos donos da mídia sobre o preço a pagar por uma trégua, perdeu eco na cúpula do governo.

Lula recorreria  ao movimento sindical em 2005. A palavra 'golpe ' foi entronizada no discurso da resistência - para horror dos que insistiam em um acordo com o dispositivo que costurava a derrubada do governo.

A reeleição em 2006 quando se imaginava que o Presidente  sangraria até morrer,  e o êxito em eleger a sucessora, em 2010 --que termina seu mandato assentada em trunfos suficientes para ser reconduzida ao cargo--  evidenciariam ao conservadorismo, em contrapartida, a importância crucial de preservar a sua única vantagem verdadeira no embate: o quase monopólio midiático.

Instalou-se, progressivamente, um "termidor" nas redações.

 A fratura acalentada originariamente pelo PT, entre o baixo clero feito de jornalistas solidários e as direções conservadoras, foi cicatrizada a ferro e fogo com depurações e rupturas nos últimos anos.

A última purga da década foi feita recentemente no jornal Valor Econômico.

Profissionais íntegros e isentos continuam a existir nas redações.

Mas os sistemas de controle, a pauta e o torniquete da edição, sob comando de robespierres que compartilham do diretório demotucano, esmagaram o espaço da isenção, sem o qual não há contraditório.

A mídia como ambiente democrático permissivo à formação da consciência crítica e progressista da sociedade brasileira deixou de existir no país.

Pouca dúvida pode haver de que isso ameaça a democracia e a equidistância das instituições, do legislativo ao judiciário.

A percepção dessa ruptura, e os desdobramentos políticos que ela acarreta, cristalizou-se no linchamento midiático que subordinou as togas à cenoura dos holofotes, no julgamento da Ação Penal 470.

A tradição acomodatícia do PT em relação à chamada grande imprensa - seu descuido histórico com iniciativas para contrapor  pluralidade ao monólogo - tornou-se perigosamente anacrônica.

Quando a Presidenta Dilma diz que prefere o excesso de uma mídia ruidosa ao silêncio das ditaduras, por exemplo,  não está dizendo –como se viu acima--  nada de novo para a história do PT.

Mas a frase soa insuficiente para as circunstâncias que se modificaram.

O PT sempre perfilou entre os partidos pluralistas, antagônicos à voz única, ao poder absoluto e à intolerância  ideológica ou religiosa.

O que se discute agora é outra coisa.

Como fazer  prosperar a democracia, o senso crítico e a pluralidade num ambiente em que um poder não eleito e sem rival à altura em sua abrangência e decibéis, dá voz de comando até mesmo à Suprema Corte --diz quem deve ou não ser julgado, como, com que precedência, a forma como deve cumprir a pena e onde?

A investida algo abusada e intimidadora sobre a Secom, após a saída de Helena Chagas, ilustra a determinação de um apetite pantagruélico que não saciará com a tradicional busca de indulgência, advogada por áreas conservadoras do PT.

Como contrapor a esse ruído despótico um contrapeso equivalente de vozes democráticas?

Essa é a pergunta que a mídia jamais fará à Presidenta Dilma.

Nem por isso a história a exime de responder.

A intimidação em curso tem como meta consagrar o interdito da publicidade federal aos sites e blogs progressistas, aqueles que semeiam a referência de um ponto de vista alternativo ao círculo de ferro conservador.

Por certo, a Presidenta Dilma não convalida em sua concepção de ruído democrático a narrativa de uma nota só evocada por esse jogral, que sobrepõem a liberdade de empresa à liberdade de expressão.

Não se pode mais declinar de dar às consequências as suas causas.

As causas da crispação autoritária que lateja na vida política do país decorrem em grande parte do desequilíbrio avassalador cristalizado no seu sistema de mídia e comunicação.

Não enxergar o óbvio  é pagar a crediário o suicídio político.

Um governo democrático, que pretende fazer do Brasil um país de classe média - supõe-se que não simplesmente de consumidores de tablets, não pode mais lutar a batalha do dia anterior.

A disjuntiva que se coloca não é mais entre autoritarismo/aparelhismo ou monólogo conservador, como quer o capcioso enunciado da emissão dominante;
Não estamos nos anos 60 ou 70.

Estamos diante de um aparato claustrofóbico de difusão que se avoca o direito de enclausurar a formação da opinião pública brasileira e de interditar o debate –crucial nos dias que correm-- sobre o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.

Não se constrói um país de classe média esclarecida sem as condições efetivas ao esclarecimento e à formação da consciência crítica.

 Não basta o crédito à aquisição de computadores, celulares etc

 É obrigação de governo, também, assegurar espaço para que seu conteúdo seja plural e democrático.

Disputar as expectativas, em certos momentos, é tão decisivo quanto ajustar as linhas de passagem entre um ciclo econômico e outro.

Esse é um desses momentos.

E isso requer um novo entendimento de comunicação do governo.

A  Secom  pode exprimi-lo com equidistância e lisura.

Há uma prova de fogo no caminho: não se submeter à intimidação dos que se avocam a prerrogativa de fixar critérios --e limites implícitos--  do que seja uma política democrática de comunicação para a sociedade brasileira hoje.