domingo, 7 de dezembro de 2014

Aécio convoca manifestação golpista patrocinada pelas maiores fortunas do país

6/12/2014 17:02
Por Redação - de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo

golpe
Manifestação convocada por Aécio Neves pede
o golpe de Estado com intervenção militar
 
A possível participação dos homens mais ricos do país em uma manobra golpista foi alvo de denúncia, neste sábado, há apenas algumas horas das manifestações realizadas pelas forças de ultradireita, na tarde deste sábado, nas principais capitais do país, após convocação do senador tucano e candidato derrotado nas eleições presidenciais deste ano Aécio Neves. Os manifestantes pediam a volta da ditadura militar e a cassação do mandato da presidenta reeleita, Dilma Rousseff.
Na véspera, Neves divulgou um vídeo convocando seus eleitores para uma ‘manifestação’ contra o resultado das urnas e o sistema democrático brasileiro. A produção da peça publicitária coube à Fundação Estudar, proprietária da página na internet que sustenta o Movimento Vem Pra Rua, de tendência fascista, inscrita no organismo de cadastro da internet brasileira, o Registro.BR, sob o CNPJ 040.287.005/0001-61. A Fundação Estudar é de propriedade dos empresários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, donos das maiores fortunas do país, segundo levantamento do jornalista e blogueiro Gustavo Alves, de Brasília.
O responsável pela página eletrônica, que abriga o movimento golpista é Fabio Tran, que assina como Diretor Executivo da Fundação Estudar.
Registro da Fundação Educar no site Vem Pra Rua
Registro da Fundação Educar no site Vem Pra Rua
“Impressionante que o neto de Tancredo se preste à cumprir a função de marionete de luxo dos donos da Ambev, do Burguer King e outras franquias. Será que os revoltados manipulados por Aécio e sua trupe sabe que a cada queda da Bolsa ou das ações da Petrobras, eles enriquecem ainda mais esses três alegres senhores?”, questiona Alves.
E prossegue: “A tentativa desesperada de prolongar a guerra eleitoral depois do fechamento das urnas não é novidade. Aécio tenta desesperadamente se firmar como líder da oposição antes que seu arquirrival José Serra tome posse como senador e deixe-o em segundo plano”.
Vai apurar
Após a denúncia, Lemann negou a jornalistas o envolvimento dele e de seus sócios na trama contra o processo democrático brasileiro e tentou excluir a Fundação de propriedade deles do patrocínio à tentativa de golpe de Estado no país, apesar das evidências.
– (A participação da Fundação Educar no patrocínio a um movimento neonazista é) novidade total para mim. Eu não me meto em politica e a Fundação Estudar também tem que ser totalmente apolítica – diz Lemann.
Após admitir o vínculo trabalhista com o responsável pelo site do movimento golpista, Lemann prometeu que vai pedir uma apuração mais detalhada sobre o caso.
– Estou perguntando ao comitê executivo e ao Presidente do Conselho da Fundação, Marcelo Barbosa, o que se passa. Suspeito que eles não saibam de nada – disse.
A objetivo, na fachada da Fundação Estudar, “fundada em 1991 por 3 dos mais importantes empreendedores do mundo, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles”, segundo o site da instituição, “potencializar jovens talentos para que possam agir grande e transformar o Brasil”.
Derrotado
Após gravar o vídeo, no qual convoca a participação nas manifestações golpistas, Aécio Neves se vê diante de uma nova derrota. Em São Paulo, capital que reuniu o maior número de manifestantes, cerca de 600 pessoas carregavam cartazes contra a democracia e a pela derrubada da presidenta eleita. Nas demais capitais, esse número não passou de 100 manifestantes, em um novo fracasso da ultradireita, liderada por Neves que, segundo o cientista político Antonio Lassance, teme a ação da Polícia Federal na Operação Lava Jato. “Neves terá que engolir sua afirmação de que foi derrotado por uma organização criminosa. Grande parte dos políticos corruptos que receberam propina do esquema que saqueou a Petrobrás, citados por um dos delatores, apoiou sua campanha, desde o primeiro turno”, afirma Lassance.
“Ainda conforme os próprios delatores, o envolvimento de cada um deles com essa organização criminosa data do governo do presidente Fernando Henrique. Já basta desse lenga-lenga de Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Roberto Duque. Os brasileiros querem saber os nomes dos políticos que receberam dinheiro de propina do esquema que assaltou a Petrobrás”, acrescentou.
Segundo Lassance, “o que se espera agora é que as informações já vazadas sejam confirmadas no inquérito da Polícia Federal, se os delegados fizerem o trabalho de delegados e não de cabos eleitorais de distintivo.O que se quer é que todos sejam imediatamente julgados pelo STF ou fujam logo de seus mandatos para serem processados em primeira instância, como fizeram os acusados Eduardo Azeredo e Clésio Andrade, mensaleiros amigos de Aécio Neves”, conclui.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Altman: Derrota não impede ultradireita de armar o golpe

5/12/2014 13:41
Por Breno Altman/Opera Mundi - de São Paulo

Aécio tem mostrado uma outra face, depois do riso no canto da boca, nos confrontos com a presidenta Dilma Rousseff
Aécio tem mostrado uma outra face, de caráter golpista e de apoio às forças mais retrógradas do país
A aprovação de mudanças na Lei de Diretrizes Orçamentárias, obtida no final da madrugada desta quinta-feira, não sustou ou debilitou a escalada conservadora. Apesar da vitória parlamentar, evitando explosão de uma crise fiscal no colo da presidente, como era desejo da oposição de direita, o governo segue acuado.
Os partidos conservadores, associados à velha mídia, tomam carona na manipulação de denúncias provenientes da Operação Lava Jato e tentam manter o oficialismo sob fogo cerrado. Os sinais do caráter golpista da estratégia opositora são evidentes.
Mesmo que suas principais lideranças ainda considerem insuficientes as condições políticas e jurídicas para abrir processo de impedimento, as operações de desgaste e sabotagem não escondem o propósito desestabilizador.
Não há surpresa no comportamento do PSDB e o resto da matilha, a bem da verdade. Durante a campanha já era evidente, pelo discurso de alguns próceres, que a aliança reacionária se jogaria de corpo e alma no enfrentamento.
Nunca esconderam a intenção de deslegitimar a presidente, empurrá-la contra as cordas e, se possível, abortar o mandato conferido pelas urnas. Tampouco deixam dúvidas sobre o plano de desconstruir o PT e o ex-presidente Lula antes das eleições de 2018.
O que espanta é a inação governista desde o final de outubro.
Apesar de resoluções combativas, o petismo parece tomado pela apatia e o cansaço político. A reclamar do golpismo, por infração às regras democráticas, mas sem adotar comportamento resoluto e massivo, capaz de interromper as tramoias.
A tomada das galerias do parlamento por um punhado de delinquentes remunerados, durante a votação da LDO, foi simbólica desta política de guarda-baixa.
Por que o PT e o PC do B não convocaram sua militância para ocupar as arquibancadas do parlamento, em defesa da proposta do governo?
Por que a presidente não foi seguidamente à televisão e ao rádio, em entrevistas e em rede, para indicar o que estava em jogo na decisão sobre o superávit primário?
Por que os instrumentos de comunicação do governo não foram acionados para explicar do que se tratava a batalha em torno da LDO?
De qual manual o governo extraiu a lição que o melhor remédio contra a politização da direita seria a despolitização da esquerda?
O Planalto parece aprisionado pela orientação defensiva adotada depois do triunfo eleitoral, contaminando partidos e movimentos que constituem sua base de apoio.
Na mira do golpe
A presidente e sua equipe mais próxima empenham-se em providências e discursos para apaziguar o capital financeiro, o ruralismo, os meios de comunicação, os centros imperialistas, as frações centristas que flertam com a direita, os próprios partidos de direita.
Partem de premissa comprovada, a correlação desfavorável de forças nas instituições, para conclusão gradualmente desmentida pelos fatos: a política de recuos não revela eficácia para conter as forças golpistas.
Ao contrário. A oposição de direita sente-se mais forte em seus ataques, dedica-se a explorar eventuais contradições e vulnerabilidades da esquerda, toma gosto por fazer política recorrendo à disputa aberta do Estado e da sociedade.
Os momentos de calmaria, propiciados por decisões como a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, logo são seguidos por novos vendavais.
O conservadorismo, mesmo com fraturas e divisões, expõe inédita determinação, um apetite pantagruélico por ocupar todos os espaços disponíveis.
A política do recuo, por outro lado, inibe o campo popular. Divide e paralisa as forças progressistas que levaram ao triunfo eleitoral de Dilma Rousseff. Não deixa clara qual a agenda pela qual seguirá seu segundo governo, conquistado pela narrativa do aprofundamento e da aceleração de reformas.
Pouco se faz para animar a esquerda e provocar o retorno ao palco dos setores populares. Afinal, são esses os únicos destacamentos aptos a enfrentar o consórcio golpista, como a disputa presidencial deixou claro.
Revelam-se politicamente inócuas medidas como a indicação de ministros amigáveis às classes dominantes, o duplo aumento da taxa de juros, o aceno para política econômica mais ortodoxa, o arrefecimento da crítica aos monopólios da informação e o rebaixamento da defesa de uma Constituinte para a reforma política.
Ainda que parte desses encaminhamentos seja inevitável, para preservar a governabilidade institucional, que depende de coalizão pluripartidária e policlassista, demonstra-se estarrecedora a ausência de programas, decisões e símbolos que mobilizem a base natural do petismo.
Vale lembrar que inexiste registro histórico de intentos golpistas detidos por lamentações acerca de sua natureza pérfida.
Não há saída fora da contraposição, à sanha conservadora, de um movimento popular e democrático impulsionado por governantes e partidos que legitimamente exercem a liderança do país.
Breno Altman é jornalista, editor do site de notícias Opera Mundi.