quarta-feira, 17 de junho de 2015



Davis Sena Filho

DAVIS SENA FILHO

O político mineiro e carioca, enfim, "reconhece" que sua estratégia de derrubar uma andatária legítima seria, e como é, um tiro pela culatra.

Desde outubro de 2014, quando foi anunciada a vitória de Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência da República, o senador tucano Aécio Neves, do conservador PSDB, deu início a um processo de golpismo institucional, no qual o principal mote era o impeachment de sua adversária eleitoral, que, democraticamente e pela vontade das urnas, foi reeleita presidenta do Brasil pelo povo brasileiro, com 54.501.118 votos.
Com o apoio do partido da imprensa familiar e meramente empresarial, o tucano, que por duas vezes foi governador de Minas Gerais, sofreu outra derrota eleitoral em seu próprio Estado, desta vez seu candidato, o ex-deputado Pimenta da Veiga, perdeu para o petista, Fernando Pimentel, que ora está a fazer um pente fino nas contas do Estado mineiro, depois de quase 20 anos de desgovernos do PSDB, partido que continua ainda a mandar e a desmandar em estados importantes como São Paulo, Paraná e Goiás.
Contudo, e apesar de tudo, Aécio Neves "desistiu" do impeachment, mas durante quase oito meses apostou em golpe, a não reconhecer a vontade das urnas e a demonstrar cólera ou ódio de uma forma que não condiz com as tradições da política mineira, a começar pelo seu avô Tancredo Neves, um político moderado, voltado ao diálogo e que esteve na linha de frente de crises políticas radicais.
Crises violentas, que dividiram o País, a exemplo da posse de João Goulart, em 1960, bem como nos episódios da morte de Getúlio Vargas, em 1954, e do complexo acordo político para que ele vencesse o candidato oficial da ditadura, Paulo Maluf, em um colégio eleitoral que referendou e legitimou a candidatura indireta de Tancredo, já que a vontade popular de aprovar as eleições diretas, em 1984, foi derrotada no Congresso.
Aécio Neves era o secretário particular de seu avô, que faleceu antes de assumir a Presidência, e, ao que parece, não aprendeu nada, pois, radical e imprudente, comportou-se politicamente com irresponsabilidade, a apostar no quanto pior, melhor, bem como passou a vociferar contra Dilma Rousseff de forma desrespeitosa, além de distorcer as realidades econômicas, a começar por fazer críticas ao ajuste econômico, que, se fosse com ele, seria muito mais radical, afinal seu ministro da Fazenda seria o economista e banqueiro, Armínio Fraga, o homem do Banco Central do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I.
Fraga, o homem de confiança do megainvestidor, George Soros, elevou os juros para 45%, a maior taxa selic das últimas décadas, de forma que engessou a economia, além de inviabilizar, de fato, a criação de empregos para o povo brasileiro. Nunca se sofreu tanto. No governo cinzento do Neoliberal I, sujeito a raios e trovoadas, cobras, aranhas e lagartos, nem emprego tinha para o trabalhador. Quem não se lembra da tortura do desemprego são os mais jovens e os coxinhas paneleiros de certas idades, que negam a história e constroem suas "realidades" conforme seus interesses e conveniências.
A resumir: Armínio Fraga é tão somente um agente financeiro da banca internacional. O mundo pode pegar fogo. O Brasil pode falir. O povo pode morrer de fome e não ter emprego. Porém, o único interesse desse senhor, que não tem compromisso algum com o Brasil e levou o Governo FHC a pedir esmolas ao FMI como um subserviente e colonizado maltrapilho, é fazer com que os investidores, ou seja, os agiotas, jogadores do mercado, especuladores e rentistas ganhem a maior renda e lucro possíveis, ao preço, evidentemente, da miséria e da fome do povo brasileiro. Voltemos a Aécio.
O político mineiro e carioca, enfim, "reconhece" que sua estratégia de derrubar uma mandatária legítima seria, e como é, um tiro pela culatra. A verdade é que o impeachment não era apoiado pelos tucanos de São Paulo, adversários poderosos de Aécio, a exemplo do governador Geraldo Alckmin, virtual candidato do PSDB à Presidência da República, e do senador, José Serra, que sempre considerou que a eventualidade de um impedimento de Dilma Rousseff não seria viável.
Quem deu corda para Aécio Neves se enforcar nessa aventura desmedida e imprudente do impeachment foi o ex-presidente FHC, aquele que teve em seu governo acinzentado o Gustavo Franco, o Armínio Fraga e o Pedro Malan como homens de negócios privados para doar à gringada e aos entreguistas predadores brasileiros o patrimônio público, que eles não construíram e jamais teriam competência para construir, pelo simples fato de essa gente apátrida e mentalmente colonizada não pensar o Brasil em hipótese alguma.
Ao dar os trâmites do golpe contra a Dilma por findos, o X da questão para o tucano mineiro é não perder a indicação dentro do PSDB para ser o candidato da legenda na corrida presidencial. Além disso, creio eu, Aécio vai deixar de ser o alter ego jovem de FHC, que o ajudou a colocá-lo em uma furada, inclusive a lembrar o político coxinha e golpista venezuelano, Henrique Capriles, tanto no que diz respeito a aparência pessoal quanto na questão relativa à agressividade, à manipulação dos fatos e das realidades e à ideologia de direita, reacionário e de essência golpista.
A partir de agora, o "reizinho" da burguesia e da pequena burguesia vai ter de se comportar como um garoto malcriado e inconformado porque lhe tiraram seu brinquedo — a Presidência da República. E, para isso, vai ter de se comportar, definitivamente como adulto e não mais como o intempestivo playboy de Ipanema e Leblon. A paulistada do PSDB não está para brincadeira, e não vai mais abrir a guarda para que um "estranho" no ninho ocupe seu espaço político.
São Paulo é umbilicalmente ligado à contrarrevolução de 1932, e Minas Gerais, se Aécio Neves não sabe, mas deve saber, aliou-se a Getúlio Vargas — o líder da Revolução de 1930, a único movimento armado que de fato mudou a história do Brasil e as condições de vida do povo brasileiro. Não é à toa que São Paulo é a única capital do Brasil que não tem uma única ruazinha com o nome do maior presidente e estadista que este País já produziu, a acompanhá-lo em grandeza o ex-presidente Lula, atualmente o maior líder trabalhista e de esquerda da América Latina, que poderá, em 2018, ser o candidato do PT ao Palácio do Planalto.
O jogo vai ser duro entre os tucanos e é por isto que a tese do golpismo foi derrotada e a imprensa burguesa já compreendeu e mudou de assunto. Desprovido de uma máquina estatal (perdeu o governo de Minas) e saindo atrás na corrida presidencial em relação a Alckmin, o senador Aécio recorre a frases como o PSDB não pode "saltar etapas". Ele apostava no impeachment porque perdeu o Governo de Minas, mas agora também notou que sua sobrevivência política, em âmbito nacional, depende, sobretudo, de seu talento para convencer os correligionários que ele é um candidato viável, pois teve 51 milhões de votos.
Por causa desses fatores já citados, Aécio Neves quer adiar o debate sobre sucessão no PSDB. O político das Alterosas está irritado ao tempo que temeroso, pois seu adversário interno, Geraldo Alckmin, além dos apoios dentro do partido, tem a máquina de São Paulo nas mãos, bem como a cumplicidade quase que total da imprensa de negócios privados do Estado bandeirante, que é seu braço político mais forte e agressivo, além de "fazedor" da cabeça de uma grande parcela da classe média de perfil conservador, que está insatisfeita com o PT no poder e principalmente com a ascensão social dos pobres.
Aécio Neves vai ter de se reinventar. Ou voltar o que ele sempre apareceu ser: um político de diálogo e moderado. A verdade é que o mineiro está em uma encruzilhada, pois tem a consciência de que o PSDB paulista antecipou a corrida da sucessão e a imprensa paulista e as Organizações(?) Globo vão fechar com quem historicamente sempre fecharam: com o lacerdismo e a Revolução de 1932. A verdade é dura, mas não tem escapatória: Aécio desce dos tamancos e abandona seu viés golpista. É isso aí, cara pálida.



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