terça-feira, 7 de outubro de 2014

Dilma enfrenta seu pior desafio no segundo turno contra Aécio Neves

6/10/2014 13:52
Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro

Pessoal da limpeza deixava tudo pronto para o discurso da presidenta, na noite desta segunda-feira
Pessoal da limpeza deixava tudo pronto para o discurso da presidenta, na noite desta segunda-feira
Atual presidenta da República, Dilma Rousseff (PT) está diante do desafio mais difícil de sua vida, se quiser permanecer no cargo, mostraram as urnas neste último domingo. Após uma campanha no primeiro turno em que se dividiu entre um aceno à esquerda e o abraço ao agronegócio, Dilma chega para a disputa com o preferido dos conservadores, Aécio Neves (PSDB), que comemoram a vitória do ex-militar Jair Bolsonaro (PP), como campeão de votos, no Rio, e o crescimento expressivo da bancada de parlamentares na Câmara Federal, com expoentes da ultradireita como Luiz Carlos Heinze (PP-RS). Os bilhões de reais investidos na tentativa da candidata petista em fazer as pazes com a mídia hegemônica seguiram para o ralo, uma vez que os meios de comunicação ligados à direita trabalharam para que o segundo escrutínio da opinião brasileira ocorresse exatamente com o representante tucano, apesar da festa em torno da candidata Marina Silva (PSB/Rede Sustentabilidade). O estrago causado pela ação midiática em peso a favor dos candidatos do campo reacionário chegou a causar atritos na direção da campanha petista e levou a presidenta, pela primeira vez em seus quatro anos de governo, a convidar blogueiros da esquerda para uma coletiva.
Na balança eleitoral, Aécio Neves atrai pesos pesados da indústria, dos bancos e dos segmentos mais anacrônicos da sociedade brasileira que, nas urnas, demonstraram um vigor além do previsto nas pesquisas de opinião. Estas, aliás, ainda estão tentando compreender onde erraram. A diretora executiva do Ibope, Márcia Cavallari, negou nesta segunda-feira que o instituto de pesquisa tenha errado tanto assim nos resultados, após o crescimento repentino de Neves (PSDB), que superou Marina Silva com ampla vantagem e foi para o segundo turno com a candidata do PT.
– Essa era uma eleição com mais incertezas. Sabíamos disso desde as manifestações de junho do ano passado – disse Cavallari, a jornalistas.
Na última pesquisa Ibope, divulgada no sábado, Aécio aparecia com 27% dos votos válidos, contra 24% de Marina. Dilma mantinha a liderança com 46%. Segundo afirmou, a diferença dos resultados de domingo para as últimas pesquisas em alguns Estados não foi captada porque o eleitor mudou de ideia até o último minuto.
– Nossa última pesquisa havia mostrado um crescimento do Aécio. Esse movimento continuou após o fim da pesquisa, por isso o resultado oficial foi diferente. O eleitor teve um interesse tardio por essa eleição – disse.
A próxima pesquisa deve ser divulgada na quinta-feira, em parceria com o jornal O Estado de S. Paulo e a Rede Globo. Até o fim do segundo turno, devem ser divulgadas até quatro pesquisas e, dessa vez, os institutos esperam captar de forma mais precisa a opinião dos eleitores que, ao mesmo tempo em que elegeram os representantes da direita reacionária, também souberam valorizar as bandeiras à esquerda do PSOL, com mais de 1,5 milhão de votos para a candidata Luciana Genro. Na noite passada, Genro diz que o partido ainda vai decidir se apoia a presidenta Dilma Rousseff no segundo turno. Genro afirmou que as bandeiras defendidas por sua campanha, como os direitos civis da população LGBT e a taxação de grandes fortunas, continuam pendentes e que os candidatos que foram para o segundo turno não irão resolver os problemas do país. No Rio, o campeão de votos do PSOL, Marcelo Freixo, já adiantou que fará campanha pela candidata à reeleição, enquanto Jair Bolsonaro, de ultradireita, já mergulha nas hostes tucanas, garantindo seu voto a Aécio Neves.
Veja, na tabela, como ficou a composição da Câmara dos Deputados:
partidos, tse
Fonte:TSE
Derrota no Parlamento
No total, 28 partidos elegeram deputados federais, mas a base aliada da presidenta emagreceu, após as eleições deste domingo. O PT continua com a maior bancada nominal, segudo do PMDB e do PSDB, que saiu vitaminado das urnas. Os resultados ainda poderão ser alterados, por conta dos processos em andamento na Justiça eleitoral – como no caso do ‘ficha suja’ Paulo Maluf (PP-SP), entre outros. Mas, encerrada a apuração, o quadro das candidaturas pendentes não têm como alterar de maneira significativa a distribuição das cadeiras entre os partidos com representação na Câmara, que aumenta de 22 para 28.
O PT foi a legenda que mais se desidratou, com 18 deputados a menos, enquanto o PSDB elevou sua bancada de 44 para 55 integrantes. A redução no tamanho da bancada petista, porém, é insignificante perto do número de candidatos conservadores nas bancadas eleitas, mesmo naquelas que, supostamente, representam a esquerda. Segundo o jornalista Sérgio Duran escreveu em sua página, em uma rede social, “o PT precisa restaurar a capacidade de diálogo com a população. Dilma não disse ainda o que pretende no segundo mandato. (…) Tem de descer do salto como Lula sempre desceu”.
Eleição polarizada
Para o cientista político Antonio Lassance, em artigo publicado nesta segunda-feira, “um balanço das eleições revela uma disputa acirrada, palmo a palmo, e muito polarizada, em termos políticos, programáticos e sociais”.
“No primeiro turno, houve dois grandes perdedores: Marina Silva e os institutos de pesquisa. Marina perdeu a disputa com Aécio por muito. Todos os institutos mostravam a candidata do PSB à frente, quando ela, de fato, esta muito, mas muito atrás mesmo.
Ibope, Datafolha, Vox Populi e tantos outros, segundo o professor Lassance, “mostraram que andam menos confiáveis que o tarô. Suas margens de erro reais são absurdas. Na quinta-feira, quando sair uma nova rodada de pesquisas, a melhor precaução que se pode ter é deixá-las de lado, para mais e para menos”.
Para o segundo turno, afirma, haverá uma “disputa dura e polarizada em termos programáticos e sociais entre PT e PSDB. Em grande medida, o mapa da disputa reforça a explicação sobre o lulismo, do cientista político André Singer. A hipótese é a de que, com o governo Lula, o PT sofreu um realinhamento político e também social. Principalmente a partir das eleições de 2006, deixou de ser um partido principalmente de classe média e passou a ser um partido cujos votos dependem, sobretudo, dos mais pobres”.
“Por isso, as votações no Nordeste e Norte do país, nas cidades mais pobres do interior e na periferia das grandes cidades garantiram a grande votação de Dilma. Se, em 2010, quando Singer formulou a tese, a principal crítica que poderia ser feita era a de que ainda era cedo para se afirmar tal coisa, as eleições de 2014 insistem em uma tendência que não parece ser mero acaso. O que era uma hipótese, em 2006, virou uma tese difícil de ser desmentida, depois de 2014. Esse realinhamento era tudo o que o PT sempre quis: ser um partido do povão. A contradição das contradições é que, com a transformação do Brasil em um país majoritariamente de classe média, a sorte do PT tende a ficar cada vez mais difícil nas eleições”, afirma.
A única saída se o PT quiser evitar esse movimento de gangorra, segundo o cientista político, em que a aproximação dos mais pobres gera quase que automaticamente um afastamento da classe média, “é evitar essa política de soma zero, em que os pobres ganham e a classe média se considera a grande perdedora – podemos acrescentar a ela os aposentados, uma legião cada vez maior de eleitores. No segundo turno, além de manter o discurso para os pobres, será necessário não só Dilma falar mais para a classe média, como, acima de tudo, sinalizar mudanças efetivas que atendam às suas expectativas”.
“A classe média quer pagar menos impostos, menos juros bancários e de cartões; quer menores mensalidades de escolas e planos de saúde e, a propósito, quer intensificar as políticas regulatórias que incidem sobre a qualidade dos serviços privados (bancos, telefonia e internet, planos de saúde, transportes e mobilidade urbana e aeroviária). Ambos, classe média e o povão, querem mais combate à corrupção e menos denúncias. Dilma segurou sua votação e ajudou a desidratar a candidatura Marina quando a qualificou como uma candidatura dos bancos e feita sob medida para o ‘mercado’. Marina se foi, mas Aécio é quem melhor cabe nesse modelito”.
A presidenta Dilma reforçou seu apelo político quando abraçou o discurso da defesa dos direitos sociais e do emprego, das conquistas dos trabalhadores mais pobres, “como o salário mínimo, da participação e do combate à corrupção”, sublinha. “Aécio está e estará atrelado à defesa do mercado, da redução da inflação a 3% – sem qualquer preocupação com o que isso acarreta na elevação da taxa de desemprego; na obsessão por dizer que vai entregar a Fazenda ao ex-funcionário de George Soros, Armínio Fraga”, acrescenta.
“É disso que se trata. É essa a disputa do segundo turno”, conclui.

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