domingo, 23 de janeiro de 2011
Vice-presidente do PSDB federal, a senadora Marisa Serrano (MS) travou com o colega não reeleito Artur Virgílio (AM) um diálogo emblemático.
Dialogaram à distância, na noite passada, por meio do microblog. Abaixo, a reprodução da conversa:
Marisa: Este ano haverá mudanças no comando do PSDB. Dois nomes que não podem faltar: Tasso [Jereissati] e Artur Virgílio –líderes, combativos e competentes.
Virgílio: Nem você, Marisa, que se saiu muito bem no episódio Renan [Calheiros] e na CPI dos Cartões Corporativos.
Na sequência, Artur Virgílio, agora ex-senador, fez uma analogia entre Brasil e EUA.
Comparou a rivalidade PSDB X PT aos embates Democratas X Republicanos.
Virgílio: Marisa, acho que nosso partido tem de mudar muito pra não virar o Partido Democrata, especializado em perder para os Republicanos.
Marisa: É a famosa Refundação?
Virgílio: Esse nome me parece meio marqueteiro. Penso num partido mais solidário, organizado, sem egos inflados, sem medo de mostrar o Fernando Henrique.
Embora limitados à economia de caracteres imposta pelo twitter, Marisa e Virgílio resumiram os dramas do PSDB.
A maioria do tucanato avalia que o melhor seria substituir o atual presidente, Sérgio Guerra (PE), revitalizando o comando partidário.
Porém, às voltas com uma artilharia subterrânea que opõe os grupos de José Serra e Aécio Neves, o PSDB passou a considerar a hipótese de conceder sobrevida a Guerra.
Formou-se no partido um denso consenso quanto à necessidade de renovação do discurso, quiçá do ideário. Aécio levou à mesa a tese da “refundação”.
Desde então, os tucanos desperdiçam energia num debate estéril sobre o verbo a ser adotado: Refundar? Renovar? Atualizar? Reorganizar?
Pelas contas do TSE, há no Brasil 28 partidos políticos. No plano nacional, contudo, o país vive um bipartidarismo de fato.
Desde 1994, PSDB e PT monopolizam as disputas presidenciais. Daí a comparação com os EUA, feita por Virgílio.
Na ponta do lápis, o petismo prevalece sobre o tucanato por 3 X 2. FHC cravou dois mandatos. Com seu par de reinados, Lula empatou a peleja.
Em 2010, ano do tira-teima, Lula fez o gol do desempate ao acomodar na cadeira de presidente a novata Dilma Rousseff.
Para complicar, Lula e o PT frequentam o gramado com cara de favoritos para o próximo embate, em 2014.
Se Dilma fizer uma boa presidência, vai à reeleição. Se for um desastre, Lula 3º deixa o banco de reservas.
E quanto ao PSDB? Briga consigo mesmo. Subverte o brocardo. Demonstra que é errando que se aprende... A errar novamente.
Personificam a infantaria tucana dois “egos inflados”: Serra e Aécio. Dividido, o PSDB eterniza a fama: agremiação de amigos 100% feita de inimigos.
Em suas três derrotas (Serra-2002, Alckmin-2006 e Serra-2010), o PSDB entrou em litígio com o próprio passado. Condenou FHC ao armário.
Privou-se de celebrar conquistas da era tucana: a desestatização que livrou setores estratégicos da estagnação, o Plano Real, a Lei de Resposabilidade Fiscal.
Como não há vácuo em política, Lula levou à vitrine o bordão do “nunca antes na história”.
Apropriou-se do que havia de benfazejo na herança tucana. E adicionou à receita investimentos sociais cavalares. Caiu no gosto da base da pirâmide.
Tomado por sua movimentação, o PSDB revela-se viciado em autoflagelação. Para aproveitar a imagem de Virgílio:
Virou uma versão brasileira do Partido Democrata. Sem um Obama que o lidere e unifique, especializa-se “em perder para os Republicanos”.
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Escrito por Josias de Souza às 20h33
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